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Round Trips

Round Trips: Capítulo 3 – Vou pra Alemanha

Por: liketour | 15/04/2019

2019 é um ano de novidades para o liketour. Além, do já conhecido liketour cast, teremos novos conteúdos, com mais dicas e histórias de viagens para você.  Uma delas é a série de entrevistas no formato escrito, batizada de Round Trips*, onde conversamos com pessoas criadoras de sites, empresário e escritores de livros sobre turismo.

Márcia Oliveira é carioca, mora em Munique e é apaixonada pela cidade. Criadora do blog, Instagram e canal no Youtube, “Vou para Alemanha”, onde fala sobre a vida e a cultura alemã e dá dicas para quem quer conhecer as terras germânicas.  Também é guia de turistas brasileiros que visitam Munique e a região da Baviera.

Márcia Oliveira

LT: O serviço de viagens personalizadas e guiadas é algo que está crescendo muito atualmente, como surgiu a ideia do blog e de ser guia para os brasileiros?

 Márcia: Eu vim morar na Alemanha em 2015. O motivo da mudança foi uma oportunidade de trabalho que surgiu para o meu marido. Como sempre gostei muito de viajar e de organizar roteiros, estudei a possibilidade de mudar de área ao me mudar de país. E depois de muita pesquisa e estudo, foi o que de fato aconteceu. Eu sou jornalista (trabalhei na área por mais de 14 anos) e agora trabalho integralmente como guia para brasileiros em Munique e arredores, o que me dá enorme satisfação! Ao mesmo tempo, ainda desempenho a função de editora no blog Vou pra Alemanha (www.vourpraalemanha.com.br), voltado para a divulgação dos meus tours e para dicas de turismo em Munique e na Alemanha.

Blog criado por Márcia Oliveira

LT: O clima na Baviera varia muito, no inverno a temperatura é negativa e no verão passa facilmente dos 20 graus.  É possível aproveitar a região Bávara em todas as estações do ano?

 Márcia: Claro! Dá pra passear e aproveitar bastante Munique e a região da Baviera em qualquer época do ano! Aqui as estações são muito marcadas, e cada uma delas tem a sua beleza, suas particularidades e atrações. No inverno, temos os mercados de Natal maravilhosos em toda a Alemanha! As cidades ficam com um clima mágico durante as festividades de final de ano. E ver a neve caindo e as cidades branquinhas é sempre uma experiência maravilhosa (principalmente para nós brasileiros, que estamos acostumados a um clima tropical)! A primavera é uma estação muito esperada:  as cidades ficam ainda mais coloridas (com muitas flores) e os dias mais longos, ensolarados e quentinhos. No outono, as folhas amarelas das árvores deixam as paisagens ainda mais belas. O verão é a época de aproveitar os parques, mergulhar nos rios e fazer churrasco e piquenique ao ar livre. Temos muitos parques e áreas verdes por aqui, e eles são o ponto de encontro dos alemães nos meses mais quentes do ano. Sem falar no Biergarten, o “jardim da cerveja”, que é onde os apreciadores de cerveja se reúnem á sombra das árvores para aproveitar os dias longos do verão – e beber cerveja, é claro!

LT: Se comparada a França e Itália, a Alemanha é menos procurada pelos brasileiros, qual é o perfil dos turistas que vão a Alemanha? O que os turistas buscam, se tratando de um país com uma História e produção artística e cultura riquíssima.

Márcia: O perfil dos turistas que visitam a Alemanha é bem diversificado. Mas, normalmente, o que as pessoas buscam aqui são aquelas paisagens montanhosas dignas de embalagens de chocolate, além de cidadezinhas românticas que mais parecem ter saído de um conto de fadas. Além disso, a Alemanha tem uma história muito rica e uma trajetória de reconstrução muito impressionante – e isso também desperta a curiosidade das pessoas. Sem falar que a Alemanha também atrai turistas interessados na cultura cervejeira (incluindo a mundialmente famosa Oktoberfest de Munique), no futebol e na indústria automobilística (BMW, Mercedes-Benz, Porsche e Audi têm museus maravilhosos).

Marienplatz, centro da cidade de Munique

LT: O mesmo país rico em produção cultural e filosófica, também causou as duas guerras mundiais. Um dos passeios promovidos por você é no Campo de Concentração de Dachau. Qual é a expectativa que os turistas têm em conhecê-lo e qual é a sensação deles ao saírem de lá?

Márcia: É uma experiência impactante. Temos acesso a muita informação a respeito do período da Segunda Guerra Mundial e do nazismo através das mais diversas fontes (documentários, filmes, livros, exposições…). Mas nada como visitar um campo de concentração para tentar se aproximar ainda mais do que aconteceu nesse período tão triste da história da Alemanha e da humanidade. Eu acho que as pessoas que desejam visitar um campo de concentração tentam sempre encontrar uma resposta para: “Como tudo isso foi possível? E por quê?”

Realmente difícil de entender…
Enfim, a visita ao campo de concentração é um momento de reflexão e uma forma de nos mostrar erros seriíssimos de um passado relativamente recente, na tentativa de que elas não se repitam no futuro.

Campo de Concentração de Dachau

LT: Ainda sobre as guerras, os alemães recuperaram o país e ainda tem uma admiração dos outros povos. Mas como essa mancha histórica, principalmente o Holocausto, é usada, no bom sentido da palavra, para promover o turismo?

 Márcia: Pois é. Se você vai a Berlim, provavelmente busca roteiros voltados para o período da Segunda Guerra, Guerra Fria, Divisão/Reunificação Alemã… Acho que Berlim é sim uma cidade que explora bastante esta temática – e que também é muito procurada por isso. Eu mesma já fiz vários passeios na cidade em busca de maior conhecimento e aprofundamento histórico. No caso de Munique, onde trabalho como guia para brasileiros, temos poucos roteiros relacionados ao período do Terceiro Reich e da Segunda Guerra. E isso é curioso, porque Munique é o berço do nazismo, a “capital do movimento”, uma das grandes cidades do Führer. Em Munique surgiu o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães em 1920. Foi em Munique que Hitler tentou dar um golpe de Estado em 1923 (o famoso Putsch da Cervejaria). Em Munique ficava a sede do Partido Nazista. Além disso, a poucos quilômetros da capital bávara, foi criado em 1933 o primeiro campo de concentração, na cidade de Dachau. E mais: Munique quase que totalmente destruída pelos bombardeios dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Por tudo isso, Munique é uma cidade muito relevante na história recente alemã. Mas acredito que por aqui ainda exista um trauma muito grande por conta do passado, um medo de explorar um tema tão delicado, talvez uma tentativa de não incentivar o fanatismo e os movimentos que infelizmente ainda apoiam e promovem o antissemitismo.  Eu ofereço um tour voltado para a história do Terceiro Reich em Munique e cada vez mais percebo maior interesse pelo assunto.

LT: Sabemos que a gastronomia não é o forte dos alemães, mas a cerveja é um símbolo da Alemanha.  No nosso podcast entrevistamos o “viajante cervejeiro”. Existe esse nicho de turismo no país? Como a indústria da cerveja capitaliza também com o turismo?

 Márcia: Bom, falando aqui sobre Munique, que é a capital da cerveja na Alemanha, temos anualmente a Oktoberfest, além da visita às cervejarias e fábricas de cervejas. Para você ter uma ideia, durante a Oktoberfest de Munique passam pela cidade aproximadamente 6 milhões de pessoas em cerca de 16 dias. Há também uma Rota da Cerveja e dos Castelos nos estados da Baviera e da Turíngia. A cerveja está intimamente ligada à história da Alemanha – ambas são inseparáveis. Por isso, o país é muito procurado pelos apreciadores de uma boa cerveja.

Oktoberfest de Munique

LT: Ok, vamos dar uma chance. Fale um pouco da culinária alemã e pratos típicos da Baviera.

 Márcia: A culinária alemã é deliciosa sim! As salsichas, o chucrute, o joelho de porco são pratos bastante famosos da culinária local. A salada de batata também é uma especialidade bávara, assim como o Käsespätzle (massa com molho de queijo e cebola frita) e o Schnitzel (bife empanado). Ah, e tem o Apfelstrudel (torta de maçã), que é uma delícia, principalmente quando consumido com chantilly, creme de baunilha e sorvete!

LT: A Alemanha tem umas das melhores indústrias automobilísticas do mundo. Para os turistas que quer rodar bastante pelo país, o que melhor: alugar um carro e acelerar nas Autobahn ou usar trens, ônibus?

Márcia: Depende muito da época e do trajeto. No inverno, sugiro utilizar os trens, uma vez que normalmente os turistas brasileiros não estão acostumados a dirigir com neve. No verão e na primavera, muita gente se aventura pelas maravilhosas estradas, que não têm limite de velocidade em alguns trechos. Mas costumo dizer que o transporte ferroviário é sempre uma experiência diferente e bem gostosa! Os trens alemães são muito eficientes, pontuais e confortáveis.

Sede da BMW. A grande indústria automobilística também atrai os turista

LT: Brasileiros e alemães tem em comum a paixão pelo futebol. O Estádio Allianz Arena, é bem moderno e o time do Bayern conhecido mundialmente. O futebol, é uma atração turística também? Os turistas tem vontade de ir aos estádios alemães?

Márcia: Com certeza. O Allianz Arena oferece tours guiados e tem várias lojas oficiais espalhadas por Munique (inclusive uma megastore dentro do próprio estádio). Os fãs de futebol têm interesse neste tipo de turismo e também amam ir aos jogos, embora normalmente seja bem difícil conseguir um ingresso.

LT: E a relação entre os povos, brasileiros e alemães, como é? Ainda ouvimos muitas piadas sobre os 7 a 1?

Márcia: É uma boa relação. Os alemães costumam gostar dos brasileiros, e, inevitavelmente, relacionam o Brasil a uma imagem de samba, futebol e Amazônia. Engraçado que muitos alemães acham que falamos espanhol ou “brasileiro” – hehehe.  Sobre o 7 a 1: é incrível, mas não costumo ouvir muitas piadas sobre a derrota histórica na Copa de 2014 – acho que, se fosse ao contrário (se o Brasil tivesse dado uma goleada na Alemanha), seria muito pior!

Allianz Arena, a paixão pelo futebol une brasileiros e alemães

https://www.voupraalemanha.com.br/

Instagram: @voupraalemanha

Youtube: Vou Pra Alemanha